Comi suchi. Conversamos Thayana, Luciano e eu, depois do nosso encontro com Rafael. Quantos nomes, quanta gente, quantos pensamentos, quantas idéias, quantos métodos, quantas maneiras distintas de criar, de organizar de pensar, sentir, viver…
Onde nos encontramos? Como criamos juntos algo que é tão meu e de Thay, que somos pessoas tão diferentes mas que neste momento temos algo girando em torno de nós duas, que mesmo sem saber ainda como vai se manifestar sabemos, pressentimos, intuimos algo, como se nós duas soubéssemos do que ainda não sabemos como será concretizado… ou sabemos? Tive hoje a nítida sensação que há algo pairando em torno de nós… e que aos poucos vamos manifestando, abrindo, materializando. Muitas águas já rolaram por baixo de nossas pontes… percebi hoje como de alguma maneira nos meus trabalhos mais próximos de mim mesma, aqueles feitos por absoluta necessidade, tem uma linha, interesses que se repetem… se livrar de fardos… abrir o peito… a rua … as pessoas comuns… relações humanas… as longas saias… o plástico… o vermelho…o tecido… o costurar… as lentas passadas com o balaio na cabeça… os olhares penetrantes… de fato estar… trazer no corpo tudo que será utilizado… arrastar sacos de água com bonecos de plástico em placentas ou afogados em água… arrastar… se livrar e agora… deixar ir.
Como transitar, como se relacionar com o outro num processo artístico tão pessoal?
Vontade de voltar ao que nos propusemos… encontrar com mulheres a beira do rio mais vezes… conversar com mais lavadeiras… imprimir em lençois estes olhares e mãos e colos… lavar a escadaria do palácio do governo… fazer fazendo… escutar o que o corpo registra de tudo isso… ações na rua como processo criativo… uma coisa que gera a outra que gera a outra… que não saia da cabeça mas venha por todos os poros, cheiros, ouvidos, venha pelo que é vivido, e então processado e escolhido. Por isso é tão importante que este processo esteja ao vento, estendido, que não se percam pelos caminhos as pequenas peças íntimas, que se tente, se arrisque… antes de fazer escolhas. Mas sim sim, Thayana tem toda razão… precisamos retornar, aprofundar, tentar de novo, em outro lugar, em outro contexto…
Tenho tido um imenso prazer em escrever. Quero costurar corações. Quero fazer meu vestido de fardos, meu vestido de dor. Escrevi em outro trabalho… Preciso vestir minha dor para poder trocar de roupa. Agora eu quero lavar, deixar ir, estender e cantar para Santa Clara Clarear.
Santa Clara Clareou, Santo Antônio espalhou, peço a Deus que mande sol prá enchugar nosso lençol.
E diz Thay… é tudo tão símbólico,vejo imagens, como um álbum de fotografias.
Que sucitam distintas emoções em sensações em quem as vê, em quem passeia entre rendas, em quem molhas as mãos, em quem ajuda um “extranho” a torcer a roupa… Extranho? Extranho me parece estarmos tão longe uns dos outros.
Sinto que antes de pensar na sequência do album, que certamente Lu cria significados, ainda precisamos tirar mais fotografias. Ir para a rua. Ir para o corpo. E não perder as fotografias que já tiramos. Nada de deixar as roupas cairem no caminho para o banho. Já fiz tanto isso…
Alessandra, terça-feira de chuva. Jazz depois do suchi. Cigarras. E água , água… como cai água do céu, como jorram palavras de mim…
Está no corpo, nas dobras da calça branca na bacia azul, na leveza da renda ao vento,na verborragia física , diz Ricardo… gotas da próxima núvem…
As vezes parece que nunca mais vou parar de escrever… gosto do som das teclas…e do desenho das letras no papel…
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